quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Um Cavalo de Troia chamado DOXA

CANTAR, PARA MIM, E' SACERDOCIO, O RESTO E' O RESTO... - ELIS REGINA
Ha um cavalo de troia que se introduziu nos media. Esse Cavalo de Troia chama-se DOXA. Nos os media estamos a divertir-nos com ele, mas nao estamos a perceber que pode constituir a nossa ruina.
Passo a explicar, melhor, explicitar:
Como homem de media, fanatico para melhor definir, e como responsavel pela Informacao de um canal televisivo estou bastante preocupado com a tendencia actual, crescente no nosso Jornalismo...que passou das paginas de jornais para as televisoes.
Confesso que me sinto regozijado pelo facto de um dos meus desafios na Direccao de Informacao da TIM se ter materializado: seis servicos noticiosos diarios, dois principais (Jornal das 13 e Jornal das 19/Jornal de Sabado e Jornal de Domingo), dois de desenvolvimento ou de ligacao (developing story em perspectiva - TIM Noticias & TIM Desporto as 10:30 e 16:00 hr) e dois servicos de flash-news (destaques do dia e noticias de ultima hora as 22:30 e resumo das noticias gerais e de desporto do dia anterior as 7:00h).
Nao me apraz por uma questao de auto-realizacao, mas porque penso que esse deve ser um dos desafios da Informacao em Mocambique na actualidade. Porque? Porque, com a expansao do ensino superior pelo Pais, senao massificacao, com ou sem qualidade, este traz consigo a activacao de cidadania...pela tomada de consciencia dos direitos e deveres dos cidadaos num estado que se quer de Direito, de Liberdade de Expressao e de Imprensa, enfim numa Democracia de facto e de direito.
Com a emergencia dos blogues, com jornais a surgirem todos os dias, com foruns de debate online, dicussoes em email networking, cabe aos media,em particular a televisao, nao imitarem ou transferirem pura e simplesmente esse circulo de debates, de exercicio da pura opiniao, para os seus espacos.
Cabe aos media oferecerem a pura noticia, os factos, as estorias, multiplicarem-se em servicos de noticias, mas noticias de facto, nao noticia com base nas declaracoes de doutas figuras, alegacao, opiniao, comentario, na suposta e pretensa analise. Precisamos de cada vez mais jornalismo fundado na reportagem, no relato vivo, na narracao de acontecimentos.
A verdadeira analise que se quer, sobretudo ao vivo, na radio, na televisao, ou seja no audiovisual deve ser uma contextualizacao...uma interpretacao dos factos para entendimento dos telespectadores e para esclarecimento dos ouvintes. E' aquilo a que eu chamaria de TEXTO (relato dos factos) E CONTEXTO (explicacao dos factos), nao TEXTO E PRETEXTO (opiniao pessoalissima e juizo de valor sobre os factos).
O problema e' que nos os media, ao inves disso, fascinados pela verve dos opinionismos, pelo pretenso debate multiplicamo-nos em espacos de debate, de achismos, de contendas, passamos a ser ou GREGOS OU TROIANOS.
Hoje, por hoje, O ACHISMO derrota O FACTO, a hermeneutica domina a evidencia... Em nome da liberdade de expressao, do alargamento do espectro democratico, da activacao de cidadania, os media dedicam cada vez mais espaco para a opiniao e cada vez menos para a pura noticia. O espectaculo da opiniao alarga-se e afunila-se o das estorias. A televisao, em Mocambique, em particular, esta' a vivar uma arena onde ao POVO SE OFERECE PAO E CIRCO.
Nesta onda de manipulacao da opiniao publica pela opiniao publicada perde o jornalismo. Haja debate, sim, mas preocupemo-nos cada vez mais em reportar assuntos, estorias, em narrar episodios da vida real...ate' para que haja factos que fertilizem e sustentem um verdadeiro debate de assuntos, de ideias e nao de coisas, instituicoes e pessoas.